Que não se perca o nosso futuro
Era uma vez um pequeno país, de certa homogeneidade étnica e geográfica. Havia, neste país, uma profunda concentração de renda, em que 80% das suas riquezas pertenciam a menos de 10% da população. Uma história de injustiças sem precedentes, inclusive com períodos ditatoriais civis e militares. Apesar disso, possuía uma classe média assalariada flutuante dada a um consumismo, com certo poder de organização.
Certo dia, após inúmeras tentativas, em parte decorrentes dessa organização, um cidadão, trabalhador de muita habilidade política, não pertencente aos citados 10% dominantes da população, ganhou as eleições para Presidente da República, contra todas as ações e ofensivas desferidas por esta classe, suas instituições e sua mídia. Ações que já prediziam a rejeição das possíveis perdas de privilégios produzidos, sustentados ou patrocinados pelo Estado.
O cidadão eleito não optou por uma ruptura brusca do até então "status quo" corrente. Preferiu, dado que não possuía maioria no Parlamento e a passividade histórica do seu povo, mudanças mais brandas, em uma coalizão de centro-esquerda, para descontentamento de alguns, inclusive do seu partido. Acreditava que não iria muito longe e que não conseguiria nenhuma mudança, caso as tomasse bruscamente, tão arraigados eram os vícios, os desmandos e a força econômica da classe até então no poder.
Essa classe, representada pelas elites, perdeu dentro do jogo democrático, pois não havia mais margem para fraudes e armações. Mas, como já se previa, quis, a todo custo, nos anos que se seguiram, ganhar no tapetão, buscando os mais diversos métodos e várias frentes: setor privado (promovendo, junto com alguns políticos e juízes, grampos ilegais, falsos dossiês, aproximações duvidosas e tentativas de suborno de autoridades ligadas ao governo, ao partido do Presidente e até de seus familiares), passando por governos locais conservadores, por parte do Parlamento (políticos fisiologistas e/ou de direita) e da Justiça, tudo muito bem orquestrado, enfocado, priorizado e ampliado por uma mídia moderna tecnologicamente, porém bem rude social e politicamente. Um verdadeiro massacre, guardando alguma semelhança ao que provocara, décadas antes, o suicídio de outro Presidente.
Nada de anormal, pois onde já se viu, na história da humanidade, membros abastados e privilegiados de uma sociedade quererem dividir, diminuir ou perder “de mão beijada” suas regalias para a maioria média ou pobre, sem revolução?
Entretanto, o trabalhador Presidente não se deixou abalar, apesar de várias baixas na sua equipe. Perseguiu o objetivo maior para o qual foi eleito: diminuir as desigualdades sociais, enormes naquele pequeno país, garantir um desenvolvimento sustentável e fortalecer suas precárias democracia e instituições. E conseguiu ir muito além do que se imaginava.
Implantou um programa social robusto, tendo como foco a segurança alimentar e contrapartida educacional e de saúde para crianças, jovens e adultos; um programa de luz e energia para todas as localidades e de cisternas para todas as famílias carentes de áreas secas do país; iniciou uma obra de transposição de um importante rio para uma faixa semi-árida e pobre do seu território. Outrossim, criou e ampliou universidades e escolas técnicas públicas (institutos federais); adotou um programa de bolsas em faculdades particulares. Aumentou o poder de compra do salário mínimo; recompôs os salários dos servidores públicos, assim como iniciou a primeirização do serviço público, abrindo diversos concursos. Diminuiu a inflação, a relação dívida interna/PIB, a dívida externa, o risco-país e o desemprego; fez ajuste fiscal; aumentou as exportações; implantou um programa de biodiesel; investiu no agronegócio; incentivou a agricultura familiar e fez pesados investimentos na empresa estatal de petróleo. Ampliou e reaparelhou os órgãos federais de controle como a polícia, controladoria, receita fazendária e os orgãos de meio ambiente, cooperando com os ministérios públicos e as justiças federais e locais, não dando trégua à corrupção e diminuindo o desmatamento.
Neste período, a grande maioria da população não era informada das ações do trabalhador Presidente, a não ser pela internet (quem tinha acesso) ou por propagandas oficiais. Era, pelo contrário, diariamente bombardeada com informações negativas, colocando o país no pior dos mundos: iminência de catástrofes, crises administrativas, sociais, econômicas, políticas e até aéreas; uma denúncia por semana, uma CPI por mês. As investigações feitas pelos órgãos do governo eram noticiadas amplamente se tivesse algum alvo dentro do governo. O massacre já referido.
Mas quais não foram as surpresas, as pessoas evoluíram, sentiram no seu dia a dia a melhora nas suas vidas, o massacre não surtiu o efeito desejado, a internet muito contribuiu e o Presidente conseguiu ser reeleito, num segundo turno, sem a maioria do seu partido e de seus afins de esquerda no congresso, é verdade, mas conseguiu.
Hoje, o trabalhador Presidente se encontra próximo do final de seu segundo mandato, que, além da continuação das políticas anteriores, tem seu foco nos investimentos em infra-estrutura e energia. Conseguiu zerar a dívida externa e se tornar credor internacional, elevar a economia do país ao “grau de investimento”, tornar-se auto-suficiente em petróleo, com perspectiva de mudança no seu marco regulatório e de ser grande exportador no futuro. A cada dia vê melhorarem todos os índices de qualidade de vida dos cidadãos, diminuir a extrema pobreza e aumentar as classes ditas médias.
O pequeno país ainda é injusto, parte das elites ainda se encontra pendurada nas suas tetas, mas os avanços são inegáveis. O ciclo se reinicia para as próximas eleições, porém, tudo indica que a população dê um passo adiante, não perca o seu futuro, eleja candidatos dos poderes executivos estaduais e federal que trabalhem efetivamente para o povo e também eleja bases de apoio nos poderes legislativos (deputados estaduais e federais e senadores) compatíveis com os executivos eleitos.
Bom, contei esta história para elucidar de maneira simplista o que se passa no Brasil do governo Lula. Considere os mesmos avanços alcançados, as resistências permanentes de suas classes abastadas e sua mídia, só que com as dificuldades alargadas, já que temos um país continental com imensas variações geográficas, étnicas, religiosas, ideológicas, sociais e econômicas.
Texto enviado pelo aluno Marcos Ticiano Alves de Souza, Licenciado em Matemática, Especialista em Engenharia de Sistemas, Estudante de Direito da UFRN