Gustavo Bertrand
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Não é necessário fazer muito esforço para notar o caráter - nem tão implícito assim - das postagens dos dias três e cinco de junho acerca do lançamento do livro “Gol de Placa” do deputado Fábio Faria, lançado na quinta-feira, dia 4 do mesmo mês, no blog de Thaisa Galvão, serviçal de vários senhores e cão-de-guarda de singelas moradias habitadas por famílias com os sobrenomes Maia, Souza, Faria e Marinho.
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Em primeiro lugar, é cediço que Fábio Faria com certeza não iria abrir mão de suas séries de supino e rosca alternada para, vejam vocês, escrever um livro. Fábio Faria escrevendo um livro? Ainda se o livro fosse de piadas, a piada em si já está consubstanciada na estapafúrdia hipótese do deputado-estrela ter se sentado para fazer uso do seu viés intelectual de escritor até então adormecido, latente e não explorado para, vejam vocês novamente, escrever um livro. Da mesma forma que a apresentadora Luciana Gimenez costuma se defender da ignorância que lhe é conferida afirmando que é poliglota, havia no nosso deputado-modelo uma discreta e improvável flor de intelectualidade nascida em meio ao asfalto de festas private e camarotes de Carnatal badalados por globais custeados com passagens da Câmara, ambientes em tese extremamente hostis para atividades dessa espécie. Busca-se presumir, de forma senil e ginasial, que a hipótese de que o livro foi de fato escrito pelo deputado-galã será comprada por alguém que não as adolescentes integrantes do seu fã clube. Alguém realmente acredita que nesse livro, além da dedicatória, haverá algo mais da autoria do ex de Galisteu?
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Mesmo que tal obra seja uma peça de pouco valor informativo, histórico, técnico e literário, com fins eminentemente de autopromoção e promoção política do grupo de papai, da Governadora, da Prefeita e de quem mais nutre interesses políticos com a realização da Copa, a ideia do deputado-marombeiro ter escrito um livro ainda assim soa descabida. O deputado-pegador-de-estrelas não deveria ter posto os bois na frente da carroça e ter aprendido a falar antes de se dispor a escrever qualquer coisa, conforme se atestou nas pouquíssimas oportunidades na qual se pronunciou na Câmara dos Deputados e nos palanques de sua campanha em 2006.
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Uma visão mais ampla e aprofundada da ocasião não resiste à conclusão mais óbvia de todas, na qual papai - o padroeiro da imprensa potiguar - com seu sagaz senso de oportunidade e apurado olfato de raposa, observou o ambiente ideal para que se tachasse a perene pecha de "pai da Copa" ao seu rebento, pecha esta que, somente, proporcionará a perpetuidade do deputado-micareteiro no vetusto posto de deputado federal, para alegria das meninotas de plantão consumidoras assíduas de Contigo, Caras e Tititi – além do orgulho de papai, é claro.
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O livro trata “dos bastidores potiguares em torno da luta para trazer a Copa para Natal em 2014”. Todavia, a supracitada blogueira faz questão de pôr em relevo em sua página que a obra “fala das ações do então secretário de Esportes, Miguel Weber, do trabalho do secretário de Turismo, Fernando Fernandes, da governadora Wilma de Faria, da prefeita Micarla de Sousa”. E o melhor, finaliza a inveterada vassala com um nocaute capaz de levar Popó à lona: “Fábio diz que está longe dele querer ser o pai da Copa. ‘Lógico que eu dei o pontapé inicial’, lembrou.”
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Como já disse anteriormente, qualquer criatura com a capacidade cognitiva de um primata nota o real intuito não só da jornalista pena-de-aluguel, que não passa de um peão das hostes robinsonianas, mas também do papai do deputado-celebridade que por ela se manifesta: Fábio Faria, o incansável, que não medira esforços para trazer a Copa para Natal, apesar de estarem todos cientes do seu protagonismo heróico e triunfante, de sua obstinação olímpica e de sua visão vanguardista de, no jargão futebolístico, “ter dado o pontapé inicial”, ainda assim se mostra humilde, o deputado-paparazzo; em que pese ter sido um obstinado lutador para Natal ser sede da Copa, a virtude da humildade, característica dos homens bons, prevaleceu ante tão numerosas qualidades a ele inerentes e que poderiam muito bem ter sido entronadas pelo impoluto deputado-menudo, o qual contrariou, entretanto, com extremas elegância e modéstia, o supostamente incontestável consciente coletivo de que fora o capitão-mor na vinda da Copa a nossa cidade, preferindo dividir as glórias da conquista com seus partidários, tudo conforme as orientações de papai, claro. Não poderia deixar de observar, no entanto, que “o pontapé inicial” foi por ele dado. Sempre com a finalidade de, com a discrição de um rinoceronte no cio, conceder definitivamente a alcunha de “pai da Copa” ao deputado-playboy e de bajular figurinhas carimbadas da política potiguar.
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A dúvida por então é apenas se o Rio Grande do Norte suportará nos próximos 40 anos mais um deputado Copa do Mundo – agora literalmente.
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on sexta-feira, junho 19, 2009
at 13:56
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